quarta-feira, 23 de julho de 2014

Relação do Texto “O Modelo dos Modelos” e o AEE





O Modelo dos Modelos” 

Italo Calvino




          Houve na vida do senhor Palomar uma época em que sua regra era esta:1-construir um modelo na mente, o mais perfeito, lógico, geométrico possível; 2-verificar se tal modelo se adapta aos casos práticos observáveis na experiência; 3- proceder ás correlações necessárias para que modelo e realidade coincidam. (...)

          Mas se por um instante ele deixava de fixar a harmoniosa figura geométrica desenhada no céu dos modelos ideais, saltava a seus olhos uma paisagem humana em que a monstruosidade e os desastres nãoi eram de todo desaparecidos e as linhas do desenho surgiam deformadas e retorcidas. (...) A regra do senhor Palomar foi aos poucos se modificando: agora já desenhava uma grande variedade de modelos, se possível transformáveis uns nos outros segundo um procedimento combinatório, para encontrar aquele que se adaptasse melhor a uma realidade que por sua vez fosse feita de tantas realidades distintas, no tempo e no espaço. (...) Analisando assim as coisas, o modelo dos modelos almejado por Palomar deverá servir para obter modelos transparentes, diáfanos, sutis como teias de aranha; talvez até mesmo para dissolver os modelos, ou até mesmo para dissolver-se a si próprio.

          Nesse ponto só restava a Palomar apagar da mente os modelos e os modelos de modelos. Completado também esse passo, eis que ele se depara face a face com a realidade mal padronizável e não homogeneizável, formulando os seus “sins”, os seus “nãos”, os seus “mas”. Para fazer isto, melhor é que a mente permaneça desembaraçada, mobiliada apenas com a memória de fragmentos de experiências e de princípios subentendidos e não demonstráveis. Não é uma ilha de conduta da qual possa extrair satisfações especiais, mas é a única que lhe parece praticável.

        Refletindo sobre o texto de Calvino verificamos como as criações de modelos previamente definidos e idealizados vem acompanhando o homem ao longo de sua história. Tais modelos determinaram os excluídos e aceitos dentro da sociedade sem reconhecer “que o todo é maior que a soma das partes”, ou seja, enxergar o que um especial não pode realizar é perder uma oportunidade de identificar ou até mesmo estimular as potencialidades do mesmo.
        Para a efetivação da inclusão e do AEE é necessário e até um total despojamento de padronizações de modelos de trabalho; de expectativas quanto as deficiências; de concepções preconceituosas e rígidas. É essencial que aja uma abertura ao novo e a experimentação, porque o que pensamos hoje ser a melhor proposta de trabalho pode ser obsoleto amanhã e não podemos nos apropriar de conhecimentos relacionados com nossa prática como algo acima do bem e do mal, inatingível e estático. O lema é o que é bom sempre pode melhorar.
      Caso contrário a visão sobre o nosso trabalho no AEE e sobre nossos alunos serão superficiais e limitadas.
       O pensamento de seu Palomar sofreu ao longo do texto uma evolução que nos remeteu ao percurso que vem sofrendo a Educação Especial. A priori não existia; em sua concepção inicial, a Educação Especial  agrupava seu público alvo com finalidade educativa sem alterações curriculares e segregando as crianças do convívio com os demais sujeitos ditos normais e as escolas especializadas vigoraram até poucos anos atrás.  
      Assim como o pensamento de seu Palomar foi se desenvolvendo, por não mais atender as necessidades, surgiu então uma concepção sem determinismos e restrições, como ocorreu com o surgimento do AEE e seus pressupostos inclusivos, promovendo o contato com a educação, interação do sujeito com todos os ambientes e comunidade escolar.

      É a partir do AEE que se cumpre a constituição no que se refere ao direito ‘a uma educação para todos’. Até agora nenhuma proposta educacional engajou tanto as crianças especiais em seu direito de aprender, porque o direito de ir a escola elas já possuiam. De acordo com a inclusão todos crescem em cidadania,respeito e aprendizagem significativa. Apesar de ainda termos um grande percurso a superar para conseguirmos implantar toda idéia de AEE vigente.




  Aluna Cláudia Cristina de Brito Camelo.